26 de novembro de 2010

Tatuagem

Quando finalmente pegaste na minha mão e disseste aquilo que há muito esperava ouvir, tudo à minha volta parou. Deixei de estar neste mundo para entrar no teu. Rios e rios de palavras foram ditos por ti, acompanhados por mil e uma carícias e gestos que me pareceram tão certos no momento. Sentia-me feliz. Feliz por estar contigo. Feliz por estarmos ali, naquilo que chamava o nosso pequeno espaço.
Porém, neste momento aqui sentada, percebo que as palavras nunca passaram disso: meras palavras que foram lançadas ao vento num mero momento que apenas existiu para mim. As carícias, que outrora me pareceram tão certas, hoje queimam em silêncio a minha pele que ao recorda-las, arde. Não passam de recordações que ficaram depois da tua partida naquele dia sem qualquer razão aparente. Foste, mais uma vez, na promessa de voltares no dia seguinte. Porém, desta vez os dias passaram e o teu regresso tornou-se cada vez mais uma sombra que desaparecia à medida que a minha esperança também o fazia.
Hoje cumpro o ritual que repito desde a tua partida e que me continua a manter ligada a esta estúpida memória. Memória esta que irá ficar sempre marcada em mim como uma tatuagem. Uma tatuagem que dói e que marca, mas que eu tenho, ainda, a secreta esperança que seja temporária e que, tal como tu, um dia desapareça sem eu estar a espera e sem deixar sinal.

21 de março de 2010

Eu só queria

Queria sair daqui. Queria puder dizer que já não me afectas. Mas não consigo, não dá. Queria esquecer o que senti, queria esquecer o que me fizeste, queria esquecer-te. Quero esquecer-te. É esta a única frase e pensamento que ecoa vezes sem conta dentro de mim. Porém, nada faz, nada sinto. Continuo a mesma e tu ainda continuas aqui, dentro de mim. Mas eu já não continuo dentro de ti, como eu bem sei. Queria fazer com que desaparecesses para sempre. Mas não consigo, não dá. Queria esquecer o bem q me fazias quando dizias que me amavas, queria esquecer a dor q me fazias sentir quando desaparecias dias sem fim. Mas não consigo, não dá. Queria fazer calar a estúpida música q continua a repetir vezes sem conta na rádio e q me recorda de ti. Queria que desaparecesse de dentro de mim o teu nome e a tua voz, que continuam a ser relembradas e repetidas vezes sem conta. Queria fazer com q desaparecesses, queria deixar de sentir isto. Mas não consigo, não dá. Queria virar-te costas, deixar-te para trás. Queria nem sequer lembrar-me a e que um dia exististe, que um dia fizeste parte de mim, que alguma vez fui tua e tu meu. Queria esquecer-te. Mas não consigo, não dá. Queria acabar com isto, queria deixar o passado bem longe. Mas não consigo, não dá. Não dá. E tu sabes disso. Tal como sabias os meus medos, os meus receios, as minhas alegrias e os meus segredos. Sabias que não me podias abandonar, que era frágil, que dependia de ti para ser feliz. Mas não quiseste saber. Prometeste-me mundos e fundos, prometeste-me a lua e o sol. E agora que tenho? E agora a que me posso agarrar? A nada. Foste, não quiseste saber. E agora? Como fico? Como ficamos? Queria que me respondesses, queria que me desses atenção. Queria que estivesses aqui.
Queria.
Mas não dá.

1 de julho de 2009

Noite

Acordo sobressaltada. Sento-me na cama e olho para o relógio. Marca agora 3 da manhã. Plena madrugada portanto. Olho para o lado e lá estás tu a dormir com a tua respiração acelerada. Não reparas no meu súbito acordar e continuas no teu pesado sono. Mexes-te e fazes pequenos ruídos. Viras-te e agora o teu braço envolve a minha cintura. Olho para ti, no teu mais profundo sono. Sorris levemente como se percebesses que estou aqui sentada a contemplar o teu sereno e angelical rosto. Toco ao de leve no teu cabelo com medo de que ao faze-lo te possa perturbar. Fico com medo de voltar a adormecer. Medo de que na manhã seguinte já não estejas aqui ao meu lado, abraçado a mim. Tento não pensar, mas ao olhar para ti esse medo apodera-se ainda mais do meu ser. Porém, o cansaço começa a atingir-me e os meus olhos vão-se tornando cada vez mais pesados até que se fecham. Na minha mente nada mais existe senão uma simples pergunta: "Estarás aqui amanhã?"


Para Cris, minha querida @

29 de junho de 2009

A Sala

Aqui estou eu nesta pequena sala.
Branca.
Nada se ouve.
Apenas o meu respirar.
Nada mais existe aqui senão eu e uma janela.
Uma pequena janela.
Janela essa donde vejo… uma paisagem.
Sim, uma paisagem.
Nessa paisagem o dia ainda não escureceu.
Consigo ver pequenos pássaros que voam.
Livres.
Livres de voar sob o céu que tem agora, tons de vermelho misturados com o azul que lhe é tão característico.
Ao longe, consigo avistar pequenos vales que assumem cores entre o verde vivo e o castanho.
Para além daquelas pequenas árvores e arbustos, não existe mais qualquer réstia de vida naquele espaço.
O aroma que chega até mim, graças ao vento, é uma mistura do cheiro de terra molhada e da relva acabada de cortar combinadas com o cheiro que um dia de chuva tem.
Este aroma, combinado com a bela, mas triste, paisagem transmite-me paz e segurança.
Sei que nesta pequena sala estou segura, que nada me pode afectar.
Sei que, posso dar graças por aqui estar.

14 de maio de 2009

Desejo

Queria desaparecer . Era o meu maior desejo naquele momento . Não queria dinheiro , amigos ou outra coisa qualquer . Queria simplsmente desaparecer . Desaparecer deste sitio , desaparecer destas pessoas , desaparecer . Tudo parecia não fazer significado . Nenhum esforço que era feito parecia melhorar a minha imagem daquilo tudo . Na minha cabeça apenas pairava aquele pensamento . Desaparecer . Era triste ver como se tinha tornado uma necessidade quase vital para a minha sobrevivência . Nada do que via ou ouvia parecia fazer algum sentido . Nada do que me diziam entrava . Nada , nada . Apenas desejava estar longe de tudo , puder respirar e sentir-me bem comigo mesma , algo que parecia dificil desde á muito tempo . Porquê ? Porque é que ninguém fazia a minha simples , e unica , vontade ? O que eu mais queria era fechar os olhos . Fechar os olhos com o desejo de que quando os abrisse estivesse longe tudo e que nunca mais alguém ouvisse falar de mim . Estar só não me assustava . O que realmente me assustava era estar rodeada de pessoas . Pessoas que não me percebiam , pessoas que não pareciam estar intressadas no que eu tinha para dizer ou partilhar , pessoas que não me conheciam verdadeiramente . O que eu mais queria era desaparcer . Porque é que não me davam ouvidos ? Tentei gritar . Tentei gritar na esperança que quando parasse alguém me ouvisse . Mas não . Todos continuavam sem me perceber . Todos continuavam a achar que estava louca . Mas não . Eu não estava louca . Queria apenas que alguém aparecesse , me compreendesse e me ajudasse a desaparecer . Seria assim tão dificil ?

13 de maio de 2009

Vulto

Acordou . Sentia-se estranha e não se lembrava do que se tinha passado anteriormente . Tentou recordar-se mas ao faze-lo apenas sentia uma dor dentro dela . Sentia-se vazia sem saber o porquê . Lentamente levantou-se e dirigiu-se a casa de banho e passou água fresca pela cara . Apesar da dor que se tinha apoderado dela , sentia-se livre . Por mais que tentasse não conseguia perceber o porquê daquela sensação tão estranha . Tentou , mais uma vez , puxar pela memória e perceber o que se tinha passado . E de repente na sua memória começaram a aparecer pequenos flashbacks dos acontecimentos de dia anterior . Começou a ver um vulto que a chamava . Estava assustada mas mesmo assim começou a segui-lo . As pernas tremiam mas mesmo assim ela não vacilava . Estava mesmo decidida em saber o que se passava e o que estava a provocar aquela sensação nela . Continuava a seguir o estranho vulto . Subitamente reparou que ele se estava a dirigir para o seu quarto . Continuou apesar do medo que estava a sentir . Quando finalmente chegou perto da sua cama o vulto desapareceu . Reparou então num estranho corpo que estava debaixo dos seus próprios lençois . Trémula levantou-os lentamente . Foi então que viu . Não queria acreditar . Paralisou por completo . Estava a olhar para seu próprio corpo . Foi então que dentro da sua cabeça todas as perguntas e dúvidas desapareceram e tudo fez sentido . Ela estava morta .

23 de dezembro de 2008

Nevoeiro

E o sentimento que menos esperava conhecer subitamente apoderou-se de mim. Não percebi como foi possivel tal coisa. Desprevenida. Só podia ser a unica explicação para tal coisa. Sentia-me fraca a cada momento que passava. Sentia-me sozinha e sem força. Por mais forte que tentasse ser, mais fraca me tornava. Como era possvel estar assim? Era a unica qestão que tinha dentro de mim e sem saber porquê não conseguia encontrar uma resposta, por mais simples q ela fosse. Dentro mim restava apenas um estranho nevoeiro. Dum momento para o outro sentia-me oca e sem vida. Era apenas um corpo que não tinha qualquer tipo de reacção. Um corpo que apenas vivia por viver. Tinha perdido a minha razão para fazer tal coisa. Tudo tinha desaparecido. Desaparecido sem qualquer tipo de explicação. Eu, eu encontrava-me muda. As palavras tinham desaparecido tal como a alegria que tinha. Por mais q evitasse, dos meus olhos apenas saíam lagrimas. E quanto mais eu tentava fazer com que essas lagrimas parassem de cair mais eu chorava por perceber não conseguia. Sentia-me tão sozinha naquela sala. Ninguém me compreendia. Eu sabia, todos sabiam que isso era impossivel. Tinha-me tornado invisivel. Daquilo que eu era, apenas restava uma sombra. Nenhuma frase ou gesto me chamavam a atenção. Como tinha aquilo sido possivel? Pensei em desaparecer, morrer. Mas eu sabia que não podia. Eu sabia que não podia ser assim tão fraca. Senti mais uma vez as lagrimas a escorrerem lentamente pela minha cara. Tentei parar, tentei limpa-las mas não conseguia. O meu esforço parecia ser inutil perante aquele sentimento estupido e sem razão. Tantas vezes que eu tentei! Como era possivel? Seria eu uma inutil? Não, não podia ser ser... E mais uma vez, tentei ser forte e levantei-me. Dirigi-me lentamente em direcção ao espelho e olhei. Foi então que vi aquela cara que eu não reconhecia. Um vulto de olhos negros sem vida. Aqela era minha dura realidade. Eu tinha-me tornado naquilo. Não aguentei e parti o aquele espelho que reflectia aquela dura imagem. Senti então uma coisa qente a escorrer-me pela pele. Olhei. Era sangue. O meu sangue tinha então começado a sair e a marcar tudo por onde passava. Acalmei-me e deixei que aquela sensação se espalhasse por todo o meu corpo. Sentei-me e adormeci.