1 de julho de 2009

Noite

Acordo sobressaltada. Sento-me na cama e olho para o relógio. Marca agora 3 da manhã. Plena madrugada portanto. Olho para o lado e lá estás tu a dormir com a tua respiração acelerada. Não reparas no meu súbito acordar e continuas no teu pesado sono. Mexes-te e fazes pequenos ruídos. Viras-te e agora o teu braço envolve a minha cintura. Olho para ti, no teu mais profundo sono. Sorris levemente como se percebesses que estou aqui sentada a contemplar o teu sereno e angelical rosto. Toco ao de leve no teu cabelo com medo de que ao faze-lo te possa perturbar. Fico com medo de voltar a adormecer. Medo de que na manhã seguinte já não estejas aqui ao meu lado, abraçado a mim. Tento não pensar, mas ao olhar para ti esse medo apodera-se ainda mais do meu ser. Porém, o cansaço começa a atingir-me e os meus olhos vão-se tornando cada vez mais pesados até que se fecham. Na minha mente nada mais existe senão uma simples pergunta: "Estarás aqui amanhã?"


Para Cris, minha querida @

29 de junho de 2009

A Sala

Aqui estou eu nesta pequena sala.
Branca.
Nada se ouve.
Apenas o meu respirar.
Nada mais existe aqui senão eu e uma janela.
Uma pequena janela.
Janela essa donde vejo… uma paisagem.
Sim, uma paisagem.
Nessa paisagem o dia ainda não escureceu.
Consigo ver pequenos pássaros que voam.
Livres.
Livres de voar sob o céu que tem agora, tons de vermelho misturados com o azul que lhe é tão característico.
Ao longe, consigo avistar pequenos vales que assumem cores entre o verde vivo e o castanho.
Para além daquelas pequenas árvores e arbustos, não existe mais qualquer réstia de vida naquele espaço.
O aroma que chega até mim, graças ao vento, é uma mistura do cheiro de terra molhada e da relva acabada de cortar combinadas com o cheiro que um dia de chuva tem.
Este aroma, combinado com a bela, mas triste, paisagem transmite-me paz e segurança.
Sei que nesta pequena sala estou segura, que nada me pode afectar.
Sei que, posso dar graças por aqui estar.

14 de maio de 2009

Desejo

Queria desaparecer . Era o meu maior desejo naquele momento . Não queria dinheiro , amigos ou outra coisa qualquer . Queria simplsmente desaparecer . Desaparecer deste sitio , desaparecer destas pessoas , desaparecer . Tudo parecia não fazer significado . Nenhum esforço que era feito parecia melhorar a minha imagem daquilo tudo . Na minha cabeça apenas pairava aquele pensamento . Desaparecer . Era triste ver como se tinha tornado uma necessidade quase vital para a minha sobrevivência . Nada do que via ou ouvia parecia fazer algum sentido . Nada do que me diziam entrava . Nada , nada . Apenas desejava estar longe de tudo , puder respirar e sentir-me bem comigo mesma , algo que parecia dificil desde á muito tempo . Porquê ? Porque é que ninguém fazia a minha simples , e unica , vontade ? O que eu mais queria era fechar os olhos . Fechar os olhos com o desejo de que quando os abrisse estivesse longe tudo e que nunca mais alguém ouvisse falar de mim . Estar só não me assustava . O que realmente me assustava era estar rodeada de pessoas . Pessoas que não me percebiam , pessoas que não pareciam estar intressadas no que eu tinha para dizer ou partilhar , pessoas que não me conheciam verdadeiramente . O que eu mais queria era desaparcer . Porque é que não me davam ouvidos ? Tentei gritar . Tentei gritar na esperança que quando parasse alguém me ouvisse . Mas não . Todos continuavam sem me perceber . Todos continuavam a achar que estava louca . Mas não . Eu não estava louca . Queria apenas que alguém aparecesse , me compreendesse e me ajudasse a desaparecer . Seria assim tão dificil ?

13 de maio de 2009

Vulto

Acordou . Sentia-se estranha e não se lembrava do que se tinha passado anteriormente . Tentou recordar-se mas ao faze-lo apenas sentia uma dor dentro dela . Sentia-se vazia sem saber o porquê . Lentamente levantou-se e dirigiu-se a casa de banho e passou água fresca pela cara . Apesar da dor que se tinha apoderado dela , sentia-se livre . Por mais que tentasse não conseguia perceber o porquê daquela sensação tão estranha . Tentou , mais uma vez , puxar pela memória e perceber o que se tinha passado . E de repente na sua memória começaram a aparecer pequenos flashbacks dos acontecimentos de dia anterior . Começou a ver um vulto que a chamava . Estava assustada mas mesmo assim começou a segui-lo . As pernas tremiam mas mesmo assim ela não vacilava . Estava mesmo decidida em saber o que se passava e o que estava a provocar aquela sensação nela . Continuava a seguir o estranho vulto . Subitamente reparou que ele se estava a dirigir para o seu quarto . Continuou apesar do medo que estava a sentir . Quando finalmente chegou perto da sua cama o vulto desapareceu . Reparou então num estranho corpo que estava debaixo dos seus próprios lençois . Trémula levantou-os lentamente . Foi então que viu . Não queria acreditar . Paralisou por completo . Estava a olhar para seu próprio corpo . Foi então que dentro da sua cabeça todas as perguntas e dúvidas desapareceram e tudo fez sentido . Ela estava morta .