Quando finalmente pegaste na minha mão e disseste aquilo que há muito esperava ouvir, tudo à minha volta parou. Deixei de estar neste mundo para entrar no teu. Rios e rios de palavras foram ditos por ti, acompanhados por mil e uma carícias e gestos que me pareceram tão certos no momento. Sentia-me feliz. Feliz por estar contigo. Feliz por estarmos ali, naquilo que chamava o nosso pequeno espaço.
Porém, neste momento aqui sentada, percebo que as palavras nunca passaram disso: meras palavras que foram lançadas ao vento num mero momento que apenas existiu para mim. As carícias, que outrora me pareceram tão certas, hoje queimam em silêncio a minha pele que ao recorda-las, arde. Não passam de recordações que ficaram depois da tua partida naquele dia sem qualquer razão aparente. Foste, mais uma vez, na promessa de voltares no dia seguinte. Porém, desta vez os dias passaram e o teu regresso tornou-se cada vez mais uma sombra que desaparecia à medida que a minha esperança também o fazia.
Hoje cumpro o ritual que repito desde a tua partida e que me continua a manter ligada a esta estúpida memória. Memória esta que irá ficar sempre marcada em mim como uma tatuagem. Uma tatuagem que dói e que marca, mas que eu tenho, ainda, a secreta esperança que seja temporária e que, tal como tu, um dia desapareça sem eu estar a espera e sem deixar sinal.